Algumas crianças possuem uma agenda lotada de aulas extracurriculares e eventos sociais infantis. Outras simplesmente passam todo o tempo livre desanimadas na frente da televisão, computadores ou dormindo por escolha própria.
Estão sempre cansadas, indispostas e fazer um convite para uma partida de futebol com os amigos ou um passeio no parque com as amigas parece ser quase um insulto.
Essa situação preocupa os pais, pois não somente a indisposição para atividades que envolvem a socialização, mas também as relações familiares. Portanto, cuidados com a saúde e com seus pertences podem ficar seriamente comprometidos.
Uma criança preguiçosa precisa de atenção, pois pode estar com problemas de saúde ou precisando de estímulos adequados à seu perfil e idade. Em muitos casos a atitude imediata dos pais é culpar os canais de televisão, jogos e computadores de deixarem as crianças menos interessadas na vida fora das telas. Isso, porém, é um grande engano e uma forma muito simples de fugir da real solução. Ao invés disso, é preciso investigar.
Como questões de saúde podem influenciar na disposição da criança
“Essa criança está quieta e parada demais, isso não é normal.” A maioria absoluta dos pais concordam com esta afirmação. Pois sabem que de forma geral, as crianças são ativas, cheias de energia para brincar e interagir com o mundo.
Por esse motivo, se houver uma mudança de comportamento repentina ou gradativa, é preciso investigar os últimos acontecimentos da vida da criança e sua saúde física. Uma visita ao pediatra pode constatar, por exemplo:
– Anemia e alimentação deficiente. Crianças anêmicas podem demonstrar falta de energia e disposição para as atividades físicas, assim como a alimentação carente de nutrientes e vitaminas também pode comprometer a energia dos pequenos.
– Doenças auto-imunes. O hipotireoidismo e a diabetes por exemplo, podem ocorrer na infância e afetam diretamente na disposição da criança. Apesar de não ter uma estatística que aponte um atraso no desenvolvimento escolar, as doenças auto-imunes afetam as relações sociais da criança, no desenvolvimento físico e consequentemente na fragilidade dos seus organismos.
– Distúrbios do sono. O sono tem um papel importante no desenvolvimento das crianças, além de ser fundamental para a reposição diária de energia. Quando o sono não está revigorando as crianças, pode deixá-las menos dispostas e preguiçosas. Apneia do sono (quando a criança para de respirar durante o sono por alguns segundos), ronco contínuo (eventualmente quando a criança vai dormir muito cansada ou quando está respirando pela boca por causa de um resfriado é comum roncar. O ronco contínuo é aquele que ocorre mesmo em dias comuns da vida da criança.
– Problemas psicológicos. O bullying e outros problemas de relacionamento podem fazer com que a criança crie uma pré-indisposição à aula atividade para evitar situações que a incomodem e deprimem. Ansiedade e estresse também são comuns na infância, por isso é preciso ficar atento.
Eliminando as questões de saúde junto ao pediatra, é hora de voltar as atenções para os aspectos comportamentais e emocionais da criança preguiçosa.
A preguiça, ou ausência de vontade/necessidade de fazer algo não nasce com a criança. Mas sim, um hábito que se forma em determinada época ou situação, inclusive na primeira infância. Alguns bebês por exemplo, desenvolvem tardiamente a habilidade de andar e falar porque não se vêem necessitados a tentar.
Quando os pais são orientados à incentivar a fala e a locomoção não atendendo prontamente aos desejos que os bebês demonstram, forçam a tentativa e o aprendizado. Ao invés de oferecer a água assim que a criança aponta para o copo, os pais perguntam o que ela está pedindo e mostram como falar aquela palavra.
As crianças maiores que demonstram desânimo ou preguiça precisam do mesmo “remédio”, ou seja, precisam de incentivos externos. Mas o mecanismo precisa ser um pouco mais sofisticado, pois nesse caso a preguiça não está relacionada à uma coisa que a criança queira como o copo de água, e sim com coisas que ela precisa fazer e aprender.
Rotinas e responsabilidades que espantam a preguiça
Por mais absurdo que seja combater a preguiça formalizando as “tarefas chatas” como parte da rotina das crianças, a repetição de uma rotina fixa trará novos desafios à criança. Uma vez que ela ganhará novas motivações como ganhar o reconhecimento dos pais ou ter responsabilidades como as crianças maiores e os adultos.
Se ela souber que todo dia após acordar, terá que fazer a cama, ela será instigada à fazer cada dia mais bem feito ou mais rápido. Além dos desafios pessoais, ela também ficará mais tranquila e no controle do cenário, pois não haverá surpresas na sua rotina padrão de atividades. Em outras palavras, ela saberá que depois de todas as suas responsabilidades, haverá o horário da brincadeira e não terá que ficar pedindo à todo tempo o que deseja fazer, o que evita o estresse e a ansiedade.
Ser responsável por passear com o cachorro, ou limpar a mesa depois do almoço também podem ser atividades que inicialmente não agradem a criança. Entretanto, inconscientemente ela sentirá parte essencial e necessária do grupo familiar, e por isso também se sentirá capaz e confiável perante os demais indivíduos.
São pequenos incentivos que inicialmente podem ser difíceis de serem inseridos e aceitos pela criança preguiçosa, mas que com o tempo trarão ganhos incríveis para a criança e a família. Para efeitos individuais, ter uma rotina fará com que a criança desenvolva o controle do tempo, organização, senso de responsabilidade e senso de ser necessário. Para efeitos coletivos, a relação filho/pais será mais tranquila e produtiva, a criança entenderá o valor das ações dos pais. Além de se orgulharem muito desta evolução, é claro.
Estímulos e exemplos compatíveis para a criança
É preciso descobrir a raiz da “preguiça”. Ela pode estar com preguiça de brincar com os amigos porque não gosta de jogar futebol, mas ficaria muito feliz e disposta em brincar de esconde-esconde. Nesse caso, o motivo da preguiça pode ser o fato de não saber jogar bem, ou simplesmente não gostar do jogo. Mas em outras situações, a criança pode demonstrar preguiça em guardar os brinquedos que usou porque sempre teve alguém que fizesse isso por ela, o que exige uma mudança de comportamentos.
Uma questão frequentemente discutida é a relação das crianças tidas como preguiçosas e os videogames e computadores. Elas rejeitam qualquer atividade física para ficarem na frente dos computadores e jogarem seus jogos preferidos.
Essa relação acaba influenciando o julgamento dos adultos de que os videogames e computadores prejudicam o desempenho das crianças nas escolas e na vida. Entretanto, se houver uma rotina estabelecida e principalmente, exemplos dos pais de que smartphones e computadores não substituem as relações humanas, essa “dependência” deixaria de existir e atrapalhar.
O problema não são os equipamentos, mas a referência que as crianças recebem deles. Se jogar videogame for uma forma de recompensa por boas maneiras ou a única fonte de diversão que a criança conheça, então de fato ela vai querer passar mais tempo nos computadores do que fazendo outras atividades.
Como reverter a situação da preguiça instalada
Se não houver nenhum fator relacionado à saúde, é hora da mudança de hábitos. Estabelecer as rotinas e as responsabilidades da criança é o primeiro passo, mas obviamente é necessário explicar à elas as consequências de não fazê-las.
Sem discutir a efetividade do método que usa “castigos” para punição dos atos reprováveis, o ideal é explicar as consequências das ações com frases afirmativas. Ao invés de dizer “se você não arrumar seu quarto não poderá assistir televisão”, é mais efetivo dizer “você só assistirá televisão depois de arrumar seu quarto”.
Nessa situação, o controle do tempo está nas mãos da criança. Ela somente terá a televisão ou qualquer outra atividade que a interesse depois de executar a tarefa. Arrumar o quarto será uma escolha dele, assim como ter o benefício de assistir televisão.
Em alguns casos a criança escolherá a consequência de ficar sem a recompensa, e os pais precisarão deixá-la vivenciar a frustração de não ter o que gostaria de ter. Ao mesmo tempo, pensar se a consequência escolhida inicialmente deverá ser alterada ao não. Se a criança ficar realmente sentida por não ter a televisão, por exemplo, o ideal é que se mantenha a consequência pois ela causará a mudança de atitude. Mas se ela demonstrar total desinteresse e realmente não se importar em ficar sem a televisão, outra consequência poderá ser sugerida no dia seguinte. Como por exemplo, não poder ganhar mais presentes por não ter espaço para colocá-los no quarto bagunçado.
Exercícios físicos também ajudam
Exercícios físicos coletivos ou individuais ajudam a criança preguiçosa a compreender que seu corpo é um importante fator de diversão na sua vida.
Em termos fisiológicos os exercícios físicos oferecem a oportunidade para que as crianças liberem endorfina em seus organismos e sintam prazer e satisfação. A regularidade dessa sensação trás efeitos imediatos na disposição para outras atividades do dia-à-dia também.
Os exercícios físicos também fazem as crianças dormirem melhor e por consequência, terem um descanso maior do corpo e da mente.
Conselhos finais para pais de uma criança preguiçosa
– Não rotulem seus filhos de “preguiçosos”. Essa é a principal forma de afirmar à eles que a preguiça é uma característica deles e não uma condição momentânea e reversível.
– Mantenha as consultas de acompanhamento com o pediatra. Algumas doenças ou condições físicas são silenciosas e podem prejudicar o desenvolvimento da criança. O hipotireoidismo pode se desenvolver sem apresentar sintomas significantes, assim como o hipertireoidismo.
– Deem bons exemplos. Assim como na alimentação saudável e na prática de exercícios físicos, não terceirize a culpa para os computadores e games. Se você demonstrar a seu filho a maneira saudável de se lidar com as tecnologias disponíveis e como elas podem ajudar, ele terá uma relação muito melhor com estes itens.
– Use a tecnologia à seu favor. Milhares de jogos de consoles e de computador estimulam as atividades físicas e de interação com outros jogadores, seja trocando moedas por passos que a criança deu com um contador de passos ou jogos que as crianças precisam copiar movimentos de esportes e danças.
– Crie rotinas e dê responsabilidades. Além de criar um ambiente controlado pela própria criança, você ainda vai estimular outros aspectos como a auto-confiança, o cuidado com os pertences e também o senso de coletividade.
– Incentive e elogie. Demonstre sempre que você confia nas capacidades da criança, e elogie sempre que ela executar uma tarefa. Ela precisa compreender que está no caminho certo.
– Relaxe. Algumas vezes as crianças estão simplesmente cansadas.
Considerar uma criança preguiçosa diz muito sobre a criação que os pais estão dando às crianças. Investigar a causa da preguiça está diretamente ligado às relações fraternais e com o mundo. A boa notícia que corrigir hábitos na infância é muito mais fácil do que na fase adulta. E, uma criança preguiçosa, pode se tornar um adulto organizado e ativo se tiver os estímulos e a educação correta.